O Deus da beleza

O Deus da beleza
A educação através da beleza
de Cláudio Pastro

PASTRO, Cláudio. O Deus da beleza: A educação através da beleza.
ISBN 978-85-356-2293-5. RJ: Paulinas, 2008.

Uma das formas mais eficazes de atingir o conhecimento amoroso de Deus é, ao
contemplar a beleza das coisas visíveis e seus reflexos divinos, voar até Àquele que é
a suprema Beleza, em sua plenitude e essência. Uma sociedade pragmática e materialista
que marginalize Deus, dá pouca relevância ao pulchrum, pois o fato de não elevar
suas vistas à contemplação do Criador de todas as coisas, ocasiona esta rejeição.
Assim, alguém que escreva um livro comentando a beleza em seus diversos aspectos,
em pleno século XXI, merece especial atenção. E é dessa forma que vemos na
obra “O Deus da beleza — a educação através da beleza”, de Cláudio Pastro, não um
livro abstrato e extratemporal, mas páginas que reflexionam, em concreto, o grande
problema do esquecimento do belo em nosso tempo, em que o fator preponderante
da alma humana é absorto pelo consumismo, e até mesmo influenciado pelo ateísmo;
onde, como o próprio autor sugere, o feio é tido como belo, e o belo como feio.
Explica ele que, para a solução deste dilema, não basta apresentar a beleza como
um deleite ou um prazer pessoal. A beleza é uma necessidade humana, que tem saudades
de dois paraísos: o que foi perdido pelos nossos primeiros pais e aquele que
será nossa merecida recompensa no ocaso da vida.
E é por razão desta força latente no interior de cada homem que surgiram os templos,
a arte de sacralizar o culto com imagens e representações, entre outros, com o
fim de demonstrar aos sentidos do homem, de forma palpável, o sagrado.
Não deixa o autor, que tem vasta experiência na edificação e restauração de Igrejas
por todo o Brasil, bem como de ministrar conferências para divulgar o papel imprescindível
da beleza no mundo de hoje, de fundamentar seu livro em sólidos princípios
filosóficos e escriturísticos, retirando pensamentos de filósofos da antiguidade como
Platão e Aristóteles, mas, sobretudo, elegendo com maestria trechos da Bíblia onde
encontramos os verdadeiros elementos para compreender o valor da beleza para a
formação mental, psicológica e especialmente religiosa de cada homem.
Para aqueles que se interessam pela etimologia das palavras, dispôs o autor dois
apêndices muito atraentes: no primeiro trata da raiz das palavras em sua origem sânscrita,
hebraica, grega e latina, esclarecendo de maneira satisfatória, até mesmo para
os estudiosos, qual a origem dos vocábulos que se podem relacionar com a beleza.

Uma análise da quarta via e seu confronto com a Via Puchritudinis

No segundo trata, resumidamente, do que é o sagrado, tendo mais uma vez, como
acima dissemos, a Sagrada Escritura como referência, e utilizando-a abundante e
sabiamente.
A par de uma ampla perspectiva para tratar do tema, analisando diversos e importantes
aspectos deste na vida cotidiana, chegando até mesmo a explicar a beleza
como tendo seu zênite no Verbo encarnado, “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl
45, 3), “face na qual contém toda a glória de Deus” (2 Cor 4, 6), o autor não receia
em descer aos mais minuciosos detalhes na segunda parte de seu trabalho, em que
comenta: “A casa da beleza — como e por que construir igrejas hoje”.
Nesta, o autor parte do princípio que Jesus Cristo “é a imagem do Deus invisível,
o primogênito de toda criatura, porque n’Ele foram criadas todas as coisas, no céu
e na terra, as visíveis e invisíveis” (Cl 1, 15-16). Desta forma, até mesmo um trinco
posto em uma igreja deve simbolizar algo sublime. Por isso, delineia ele cada uma
das providências a serem tomadas a fim de edificar um templo sagrado: que livros
litúrgicos consultar, que medidas seguir para que o altar, ou o presbitério, estejam
em perfeita harmonia com o conjunto da Igreja.
Com muito senso metafísico, baseia seus comentários acerca das contruções de
Igrejas em altos princípios, como o que nos ensina que a Igreja visível é a imagem da
Igreja invisível. Portanto, deve em tudo refletir a Jerusalém celeste em cada um de
seus aspectos. Daí não hesitar em discorrer acerca de cada um dos objetos litúrgicos,
desde a toalha do altar ao tabernáculo, dos castiçais à Capela do Santíssimo, indicando
cada pormenor que os fará belos e dignos.
Como corolário de sua obra, que como já tivemos oportunidade de frisar, possui
uma vastidão de prismas para analisar a beleza, porém não de um ponto de vista frio
e conceitual, o autor enumera as doze posturas básicas do corpo por onde o fiel deverá
espelhar a Deus que o deu vida, como lembra o próprio autor ao citar uma passagem
do livro da sabedoria: “a beleza das criaturas nos faz, por analogia, contemplar
a beleza do seu autor” (Sb 13, 5). Partindo do silêncio, transcorre pelo olhar, pelo
escutar, pelo cantar, pelo vestir, demostrando dessa maneira que “a atenção para com
a postura do corpo significa ser disponível para a ação do Espírito Santo, que é quem
lhe dá a vida” (p. 114).
Em virtude disso, concluimos que, como o próprio autor cita em seu livro, “a beleza
salvará o mundo” (p. 31). Não a beleza considerada em seus aspectos meramente
naturais e mundanos, mas contemplada e amada como qualidade divina. Deus é a
beleza, assim como é a verdade e a bondade, e nunca poderemos separar do Criador
aquilo que de bom e belo existe no Universo.
Por: Alessandro Schurig